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sexta-feira, 10 março 2023 13:39

Saudade de quem nunca partiu

Escrito por

mano azagaia

Azagaia fez política com “P” maiúsculo. Sem se meter na politiquice barata. Não foi moço de recados nem do governo, nem da oposição. Questionou na sua arte a imoralidade da elite e disse que não havia muita diferença entre os diferentes partidos: um acesso privilegiado à mesma panela. Ele escapou do estereotipo de quem fala porque alguém mandou falar.

 

A maioria dos nossos cantores produzem vídeo-clipes que repetem o mesmo apelo quase obsceno: em redor de uma casa de luxo, com piscina de luxo, com carros de luxo e uma dúzia de meninas rodopiando como borboletas à volta da exibição do luxo. A televisão e as redes sociais reproduzem essa empobrecedora mensagem até ao infinito. Essa mensagem é um elogio à ganância, é uma agressão às mulheres e é um insulto à pobreza. A pergunta é simples: em que país essas cenas são filmadas? Que convite de vida fácil se esconde nestes vídeos, onde é que mora esse fausto num país que não tem dinheiro para pagar os seus salários? Que ideia de felicidade se transmite quando se sugere que, para se ser feliz, é preciso viver na mais ostensiva luxúria?

 

Nos seus vídeos, Azagaia escolheu cantar um país de verdade, este Moçambique em que a maioria anda a contar dinheiro para entrar num “chapa”. Essa é a verdade da sua arte. Esta é a sua fidelidade para com a grande maioria dos jovens do seu país.

 

Um dos argumentos usados pelos seus detratores foi que ele não era um moçambicano “autêntico”. Tinha um pai cabo-verdiano e isso, para esses seus inimigos, era uma espécie de pecado original. Azagaia era mais moçambicano do que todos os outros que se reclamam patriotas, mas enriquecem à custa do bem público do seu próprio país.

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